Fake news

Fake news

Definição

Propagação – proposital ou acidental – de notícias falsas por parte de seus criadores ou de pessoas que tiveram acesso a elas e decidiram – dolosa ou culposamente – compartilhá-las.

Aspectos distintivos

A prática de disseminar notícias falsas é um fenômeno antigo. Acredita-se que a disseminação da expressão é datada em meados do século XIX, onde originalmente eram chamadas de false news por países de língua inglesa. Entretanto, o termo fake news assumiu um novo sentido na contemporaneidade. Popularmente, a expressão veio à tona no ano de 2016, nos Estados Unidos, em razão da disputa pela presidência estadunidense entre os políticos Donald Trump e Hillary Clinton, tendo se tornado a “palavra do ano”, em 2017, pelo Collins Dictionary.  Por consequência, o termo se tornou mundialmente conhecido, presente tanto no mundo real, quanto nas camadas virtuais. Devido ao avanço crescente da tecnologia e suas mídias de informação, as plataformas de streaming e as redes sociais se tornaram um importante palco para a divulgação de fake news. A partir disso, a expressão fake news passou a descrever tanto a criação deliberada de informação pseudojornalística, quanto a instrumentalização política da expressão para deslegitimar meios de comunicação tradicionais.

Apesar da relevância do tema e do interesse social que gira em torno dele, as fake news são, de modo frequente, confundidas com outros dois fenômenos: a desinformação e os rumores. A desinformação tem como objetivo manipular intencionalmente a sociedade (ou inimigos), utilizando-se de embustes. Já o rumor se aproxima de inverdades e suspeitas. Caminhando lado a lado destes dois eventos, as fake news caracterizam-se por notícias falsas disseminadas acidental ou propositalmente.

Exemplos deste comportamento se evidenciam no uso de fake news no cenário político nacional e internacional, influenciando decisivamente em disputas eleitorais, e na recente pandemia do COVID-19, quando uma série de informações que negavam a existência do vírus – e se opunham às vacinas – foram propagadas.

Visando compreender melhor as diferentes formas de manifestação de fake news, a jornalista Claire Wardle as dividiu em sete variações, sendo elas: a paródia, a conexão, o conteúdo enganoso, o falso contexto, o conteúdo impostor, o conteúdo manipulado e o conteúdo fabricado. Constata-se então que mesmo não sendo exatamente a mesma coisa, a presença da desinformação pode existir dentro das fake news. O que diferencia uma da outra é o caráter volitivo do agente propagador. E, junto com o jornalista Hossein Derakhshan, Wardle explicou que a comum ideia de fake news reúne em si três tipos de desordem de informação: a informação errônea (misinformation) é a informação falsa ou enganosa, criada ou disseminada sem intenção nociva; a desinformação (disinformation) é a informação falsa ou enganosa, deliberadamente criada ou disseminada com intenção nociva; a má informação (mal-information) se refere a uma informação genuína, compartilhada para infligir dano. Como afirmaram França e Abreu, esse Quadro conceitual é importante para diferenciar mensagens que são verdadeiras (más informações) daquelas que são falsas (informações errôneas, desinformações), e mensagens deliberadamente criadas/compartilhadas para infligir dano (desinformação, má informação) daquelas que não o são (má informação).

Análise

Nos últimos anos, é inegável o alcance e o poder que as fake news possuem, capazes de mudar o rumo da política, da segurança e do bem-estar social. Suspeitas tornam-se pânico, ficções são aderidas como verdade, o irreal assombra o imaginário popular como real. Desse modo, as fake news podem desestabilizar a experiência democrática, nos níveis individuais e sociais, direta ou indiretamente.

É um equívoco determinar uma ou outra parcela da população como sendo a única responsável pela disseminação de fake news, mesmo que alguns verdadeiramente tenham a intenção de espalhar embustes e lucrar com isso. Cabalmente, averiguar uma informação antes de compartilhá-la é uma responsabilidade individual. Ainda assim, governos, corporações e os gigantes da tecnologia estão buscando formas de combater as notícias falsas e garantir informações seguras, confiáveis e verídicas ao público. Abundam exemplos de projetos de leis que visam sanar esses problemas e a pressão de setores sociais (jornalistas, acadêmicos, cientistas) por ajustes nas estruturas tecnológicas e comunicativas.

Referências bibliográficas

D'ANCONA, Matthew. Post-Truth: the new war on truth and how to fight back. London: Ebury Press, 2017.
DOWBOR, Ladislau. Sociedade vigiada: como a invasão da privacidade, por grandes corporações e Estados autoritários, ameaça instalar uma nova distopia. São Paulo: Autonomia Literária e Outras Palavras, 2020.
FRANÇA, Leandro Ayres; ABREU, Carlos Adalberto Ferreira de. "Algorithm-driven populism: An introduction" [Populizm oparty na algorytmach. Wprowadzenie.], Archives of Criminology [Archiwum Kryminologii], 2021.
WARDLE, Claire. Fake News. It's Complicated. First Draft. 16 fev. 2017. Disponível em https://firstdraftnews.org/articles/fake-news-complicated/. Acesso em: 09 mar. 2022.

Referências artísticas

Fake News (Porta Dos Fundos, 2018)
Vídeo

Never Take It (Twenty One Pilots, 2021)
Música

Homeland, T6 (Howard Gordon e Alex Gansa, 2017)
Série

Breno Corrêa Vasconcelos
LattesORCID


VASCONCELOS, Breno Corrêa. Fake news. In.: FRANÇA, Leandro Ayres (coord.); QUEVEDO, Jéssica Veleda; ABREU, Carlos A F de (orgs.). Dicionário Criminológico. 3. ed. Porto Alegre: Editora Canal de Ciências Criminais, 2022. Disponível em: https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/fake-news/103. ISBN 978-65-87298-14-6.