Serial killer

Serial killer

Definição

Assassino com grande capacidade cognitiva, egocêntrico, incapaz de sentir temor e que comete diversos homicídios com um intervalo de tempo entre os crimes, no qual domina e manipula a vítima antes de executá-la de maneira intimamente simbólica, sentindo intenso prazer sexual neste processo.

Aspectos distintivos

Não há uma consolidada definição de serial killer. Tanto a descrição do FBI quanto a da Agencia Nacional de Justiça dos Estados Unidos - as quais as autoridades afirmam serem as mais precisas - são fortemente criticadas. Apesar de haver citações anteriores, a criação do termo é associada ao ex-agente do FBI, Robert Ressler. Juntos, Ressler e John Douglas, seu colega de trabalho e também agente da Unidade de Ciência Comportamental do FBI, resolveram entrevistar criminosos violentos autores de crimes mórbidos, como assassinos e estupradores. No decorrer da pesquisa, Ressler percebeu similitudes entre os entrevistados e, então, começou a classificá-los. A partir deste momento, se fez mister um termo para a definição daqueles indivíduos que cometiam um assassinato após o outro de modo gradual, até que fossem presos ou mortos. Foi então que Ressler, em uma viagem que fora participar de uma conferência na academia britânica de polícia, ouviu o termo "serial killer". Achou este tão fascinante que começou a utilizá-lo para denominar o que até então chamavam de assassinos sequenciais. A nomenclatura se adequou à definição dos assassinos e se popularizou tão bem que, hoje em dia, pessoas de idiomas estrangeiros ao dos Estados Unidos, mesmo sabendo a tradução das palavras, preferem pronunciar o termo norte-americano.

Diferente do assassino convencional, que comete crimes por motivos financeiros, pessoais com a vítima ou por entretenimento, o serial killer é um indivíduo com limitações sentimentais que mata em decorrência de seus impulsos sexuais, os quais raramente fenecem ao longo do tempo. Em um estudo chamado de "escala de maldade", realizado pelo Dr. Michael H. Stone, psiquiatra americano e professor de psiquiatria na Universidade da Columbia, em Nova York, serial killers, em sua maioria, são diagnosticados como psicopatas - cerca de 86,5%, para ser mais preciso. Ademais, aproximadamente 9% dos serial killers apresentam traços psicopáticos, mas não preenchem suficientemente os critérios de Robert Hare para serem considerados psicopatas. Divergindo do psicótico, um psicopata sabe discernir o certo do errado. Sendo assim, nem todo psicopata é um serial killer, mas a esmagadora maioria dos serial killers são psicopatas. Logo, esses assassinos em série têm ciência da reprovação social e legal que existe sob seus impulsos desviantes. Esses impulsos geralmente envolvem sadismo, tortura, domínio e mutilação, e são fantasiados, alimentados e reprimidos durante anos. No entanto, chega determinado momento que só fantasiar não basta para sanar ou saciar suas vontades, e por determinado "estressor" (termo técnico que define determinada situação do cotidiano que serve de gatilho para o assassino em série por em prática seus impulsos sexuais) há essa progressão criminal.

Todas essas parafilias são desenvolvidas, em geral, ainda quando criança, pois na sua grande maioria, serial killers foram integrantes de famílias disfuncionais, vivenciando durante toda a sua infância e adolescência um ambiente hostil. Neste havia alcoolismo, prostituição e eram submetidos a abusos físicos, sexuais e psicológicos, sendo constantemente humilhados por seus pais ou responsáveis, os quais faziam com que se sentissem inferiores, impotentes e risíveis. Dificilmente transparecem suas vontades ainda quando criança, apesar de já haver casos. Todavia, há algumas características que, mesmo na mais tenra idade, apontam um potencial serial killer. Chamada de tríade homicida, há três características que surgem ainda na infância, sendo elas:

  • enurese: tendo em vista as situações degradantes que vivem, os serial killers costumam ter distúrbios emocionais;
  • piromania: costumam ter problemas desde cedo com as autoridades por incidentes com incêndios; e
  • sadismo: comumente com animais, e ao passar do tempo, ao invés de abandonar o comportamento, este gradua e o indivíduo começa a torturar seres humanos.

O assassino em série, quando adulto, não apresenta características visivelmente anormais em público. Pode ser um indivíduo antissocial, viciado e de aparência repulsiva, tanto quanto um indivíduo sedutor, atraente e admirado pelas pessoas que vivem ao seu redor. Não há uma regra comportamental ou fisionômica entre os assassinos em série. A característica frequente em assassinos em séries, que pode ser reconhecida pelas pessoas, é o histórico agressivo, acompanhado por uma extensa ficha criminal. Normalmente são presos por pedofilia, estupros e incêndios.

Outro fator importante de se ressaltar é que o serial killer é um ser cognitivamente desenvolvido, com QI acima da média, e por esse motivo dificilmente é preso pelas autoridades por assassinato antes de cometer diversos homicídios. Esse período extenso da prática de homicídios, junto a sua intelectualidade, permitem que aperfeiçoe o seu modus operandi, para com isso adequar a execução dos crimes aos seus mórbidos fetiches sexuais. Tal aperfeiçoamento, com raras exceções, não visa a evitar sua captura, vez que é arrogante e a sequência da prática assassina faz com que ele se sinta implacável e superior às autoridades. Contudo, seus crimes são cometidos de forma simbólica, como se para obter o clímax do processo, fosse necessário que deixasse sua assinatura na vítima. Essa espécie de assinatura é singular e estática, sendo por meio dela a possibilidade do reconhecimento de que se trata de vários crimes que tem apenas um autor, identificando assim a existência de um serial killer.

Com o tempo, sua compulsividade obsessiva vai aumentando paralelamente com a sua confiança, acarretando em uma frequência maior de assassinatos em um intervalo de tempo menor.

Suas vítimas são escolhidas de acordo com o trauma sofrido pelo assassino na sua infância. Logo, as vítimas não são escolhidas por motivos pessoais, e sim por características específicas que fazem com que o assassino identifique nela algo necessário para satisfazer seus perversos anseios. Muitas vezes, e não por acaso, as vítimas são menores e mais fracas que o assassino. Na busca de uma presa para dominar, o criminoso faz a lógica fácil e captura mulheres ou homens menores e mais frágeis.

Seus prazeres vão desde a captura da vítima, na qual sentem intenso prazer com a adrenalina de sequestrá-la sem deixar rastros, até a prática de estupro, pedofilia, gerontofilia, necrofilia, canibalismo, sodomização, sadismo, mutilações, entre outras parafilias. Com isso, não apenas ficam excitados, como também chegam ao orgasmo. Após satisfazer suas vontades sádicas, acabam se desfazendo dos corpos, e alguns dos assassinos nem se importam em deixar vestígios, mas isto varia. Outra característica do serial killer é levar suvenires da vítima consigo, estes variando de peças íntimas a órgãos e partes do corpo, guardando-os e preservando-os para, nos dias que se seguirem, relembrar o prazer vivido com aquela pessoa. Bem como, muitos assassinos enterram suas vítimas em lugares em que tenham acesso para visitar o corpo, ou visitam-nas em seus túmulos após seus enterros, sentindo como se tivessem revivendo o processo de tortura e novamente sentindo prazer.

Análise

Serial killer é uma pessoa que comete diversos homicídios com um hiato de tempo entre os crimes, tendo como base para a execução dos assassinatos um mesmo modo operante, o qual pode sofrer variações, e uma assinatura estática. Criminosos com essas características detêm grande popularidade desde 1888, quando surgiu o famoso assassino em série, Jack, o estripador. Assassinos desse tipo são persuasivos, e quando capturados elaboram teorias para justificar seus crimes e as publicam em forma de livro. Isso quando não auxiliam na produção de filmes e documentários sobre seus assassinatos. Muitas vezes colecionam uma legião de seguidores, que os idolatram e aderem às suas ideologias. Isso ocorre muito por uma produção em massa de produtos que tratam o serial killer com certo devaneio, romantizando seus crimes. Com isso, parte da sociedade, de modo exagerado, consome as histórias desses assassinos apenas como entretenimento, e quase nunca como ciência. É sabido que o assassino em série é um criminoso com motivações peculiares, e por isso desperta a curiosidade de grande parte do mundo. No entanto, essa imagem fictícia que os filmes e livros passam dos serial killers causa um sentimento de fascinação demasiada em diversas pessoas. Sentimento esse equivocado, uma vez que o medo é secundarizado e os crimes hediondos e horrendos cometidos pelos assassinos são menosprezados.

Por maior que tenha havido um avanço da ciência criminal sobre a questão do serial killer, ainda não existe um consenso sobre o que causa ou desenvolve esta doença assassina. Parte dos estudiosos do tema afirmam que são fatores biológicos que determinam o assassino em série; já outros estudiosos indicam o meio social em que o assassino em série é criado como causa do transtorno. Mas, o que de fato importa é que não há nenhuma lei específica para punir ou reabilitar, se é que é possível, um serial killer no sistema jurídico-penal brasileiro. Bem como, não há nenhuma movimentação da máquina criminal visando ao entendimento dessas mentes criminais tão ímpares, assim como, não se debruçam esforços para identificar este tipo de criminoso no sistema. Dentro da prisão ou uma vez soltos, voltam a cometer suas aterradas atrocidades, sendo detectados somente após uma grande propagação de terror e inúmeros assassinatos.

Referências bibliográficas

CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004.
DOUGLAS, John; OLSHAKER, Mark. Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano. trad. Lucas Peterson. Rio de janeiro: Intrínseca, 2017.
NEWTON, Michael. A enciclopédia de serial killers: um estudo de um deprimente fenômeno criminoso, de “anjos da morte” ao matador “Zodíaco”. trad. Ana Lúcia Mantovani Ferreira. 2. ed. São Paulo: Madras, 2008.
SCHECHTER, Harold. Serial killers: anatomia do mal. trad. Lucas Magdiel. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.

Referências artísticas

Zodíaco (David Fincher, 2007)
Filme
Esse filme retrata fatos reais de um serial killer do norte da Califórnia, EUA, que - com assassinatos e cartas ameaçadoras que enviava aos jornais locais, as quais exigia que fossem publicadas - aterrorizou a população por anos.

Desvendando Serial Killers (Stuart Cabb, 2018)
Documentário
Este documentário retrata entrevistas com três diferentes serial killers que aterrorizaram a população com seus inúmeros assassinatos, tentando descobrir seus motivos e objetivos.

Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy (Joe Berlinger, 2019)
Documentário
Este documentário consiste em entrevistas feitas com o serial killer Theodore Robert Bundy, assassino e estuprador da década de 1970, que se encontra no corredor da morte, com o objetivo de traçar o seu perfil.

Grégory Gabriel Parnoff Fonseca
LattesORCID


FONSECA, Grégory G. Parnoff. Serial Killer. In.: FRANÇA, Leandro Ayres (coord.); QUEVEDO, Jéssica Veleda; ABREU, Carlos A F de (orgs.). Dicionário Criminológico. 2.ed. Porto Alegre: Editora Canal de Ciências Criminais, 2021. Disponível em: https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/serial-killer/68. ISBN 978-65-87298-10-8.