Sociologia do desvio

Sociologia do desvio

Definição

Perspectiva de análise social focada em como um grupo específico, poderoso e dominante, cria padrões e expectativas de comportamento, rotulando como desviante parcela da população que não segue esse ideal.

Aspectos distintivos

Edwin Lemert, no início da década de 1950, foi o pioneiro do compilado de pesquisas sobre o etiquetamento social (labeling approach theory), com seu estudo Social Pathology: A Systematic Approach to the Theory Of Sociopathic Behavior, em que abordou a teoria de comportamento social.

O sociólogo Howard Becker foi seu sucessor nas perquirições que tratavam sobre os desviantes serem resultado de uma ideia construída socialmente, não um erro em si. Seu livro Outsiders, trabalha a ideia de uma sociologia do desvio a partir de pesquisa baseada na experiência observacional própria, realizada em Chicago, em meados da década de 1950. Esta tinha como fio condutor a análise de dois polos diversos da sociedade: os músicos de jazz e os usuários de maconha.

A sociologia do desvio revolucionou o pensamento criminológico quando evidenciou que os desviantes são assim chamados por serem estigmatizados como opostos aos grupos socialmente influentes. A análise social trazida por Lemert, Becker e outros deixou claro que a sociedade está dividida em: dominantes e desviantes.

O grupo dominante estipula padrões estéticos, comportamentais, visuais e morais, enquanto os desviantes são aqueles que destoam desse ideal. Este grupo dominante é, em geral, suficientemente poderoso para influenciar as demais pessoas de que certos grupos e formas de agir são questionáveis e devem ser firmemente combatidos, julgados e punidos. Assim, o grupo desviante acaba por ser geralmente representado por subculturas e/ou grupos marginalizados.

Embora mantenha-se uma fluidez sobre quem representa o grupo dominante, este posto é, em geral, representado por um grupo influente e poderoso. Quanto maior o poder do grupo social, mais fácil se torna este decidir o que é "certo" e manipular a população para concordar e condenar quem se desvia deste valor.

Análise

Uma das faces da sociologia do desvio está no próprio sistema penal e na sua seletividade. A maioria daqueles que são submetidos a esse sistema são vistos como desviantes e indesejáveis pelo simples fato de pertencerem a um dos segmentos sociais específicos ou por terem condutas culturalmente "reprováveis". Não é novidade que o sistema penitenciário abriga, majoritariamente, jovens que vivem à margem da sociedade, pardos ou negros, de baixa escolaridade e condições econômicas precarizadas. No outro polo, os crimes de colarinho-branco, por exemplo, raramente sofrem o mesmo julgamento e repreensão social. Isto ocorre, pois tais crimes são cometidos por homens ricos, influentes e poderosos, ou seja, são cometidos por aqueles que detém o poder de determinar o que é desviante.

Referências bibliográficas

BECKER, Howard S. Whose Side Are We On? Social Problems. v.14. n.3 (Winter, 1967). pp. 239-247. Disponível em: https://doi.org/10.2307/799147. Acesso em: 08 mar. 2022.
BECKER, Howard S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. ISBN-13‎ 978-8537818268.
COHEN, Stanley. Folk devils and moral panics: the creation of the mods and rockers. London: Routledge, 2011. ISBN-13 978-0415610162.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 1981. ISBN-13 978-8521612551.
LEMERT, Edwin McCarthy. Social pathology: a systematic approach to the theory of sociopathic behavior. Whitefish: Literary Licensing, 2012. ISBN-13 978-1258291563.

Referências artísticas

A Letra Escarlate (Roland Joffé, 1995)
Filme
Em um cenário dominado por puritanos, a jovem Hester chega a Inglaterra, onde engravida e se recusa a falar quem é o pai da criança. A comunidade puritana, abismada com tal decisão, obriga a Hester a utilizar uma letra "A" em suas roupas, para mostrar que ela se tratava de uma adúltera. O grupo que dominava o país estigmatiza e julga a jovem por uma simples escolha pessoal, tratando-a como alguém inconfiável e desviante, que não seguia os princípios morais que eles acreditavam.

Coringa (Todd Phillips, 2019)
Filme
Arthur Fleck, comediante fracassado, convive com traumas de infância ligados a maus tratos e abandono, sofre fortemente com estigmas decorrente de suas doenças mentais, sua situação financeira e seu trabalho. Este homem foi constantemente humilhado devido a sua realidade profissional, passado por situações completamente constrangedoras. O filme do Coringa retrata a desigualdade social e a dificuldades da vida. Isolado e intimidado pela sociedade que o maltratava, Arthur assume os estigmas que colocaram nele, passando a cometer crimes terríveis e se tornando o pior desviante social.

Olhos que Condenam (Ava Duvernay, 2019)
Minissérie
Um grupo de jovens estava reunido na praça, próximo a uma floresta, quando a polícia recebe a denúncia de houve um abuso sexual na floresta. Diversos jovens negros são detidos e interrogados. Cinco destes jovens são agredidos e manipulados pela polícia para alegarem que cometeram o crime. Causando grande alvoroço social, os jovens são fortemente julgados e estigmatizados como criminosos. Sofrem uma terrível repressão social, são marginalizados, até serem condenados como culpados, mesmo sem terem cometido crime algum.

Laura Berg Corssac
Lattes | ORCID


CORSSAC, Laura Berg. Sociologia do desvio. In.: FRANÇA, Leandro Ayres (coord.); QUEVEDO, Jéssica Veleda; ABREU, Carlos A F de (orgs.). Dicionário Criminológico. 3. ed. Porto Alegre: Editora Canal de Ciências Criminais, 2022. Disponível em: https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/sociologia-do-desvio/112. ISBN 978-65-87298-14-6.